11/11/2009

Sofrimento Feliz- Metamorfoses, memórias do dia seguinte



Os derradeiros suspiros segunda -feira de manhã...
depois de 24 horas seguidas de trabalho intenso e de 98horas anteriores. Os rostos e os corpos , esmagados, despidos de força mas com muita PAZ-DEVER CUMPRIDO
 
 
 
 


Memórias escritas ... do dia seguinte.


    É difícil descrever estes dias... foi algo de magnífico! uma experiência única: o sofrimento misturou-se com o prazer e a alegria. A dor e o cansaço que denunciam a minha fraqueza física estiveram à flor da pele...mas a alegria e o prazer de fazer e contemplar esta obra magnífica  superou toda a dor física. É verdade que estive ausente algum tempo, mas foi com dedicação que me agarrei ao mural depois de regressar. Nem sempre foi fácil, tive vontade de desistir, mas a força que nos unia foi maior.Pela primeira vez fiz uma directa e fazia bastante frio de noite, mas o calor humano à minha volta deu-me ânimo para seguir noite dentro. A alvorada chegou e cada passo era dado com sacrifício...já não me segurava em pé.Está terminado!!!!
Chegou o momento de dizer adeus uns aos outros e irmos cada um para sua casa. Não foi isso que aconteceu; havia algo que ainda gostávamos de presenciar: a reacção dos alunos e professores à nossa obra- prima! Foi com alguma apreensão que aguardamos o intervalo da 10:00 horas, o momento em que toda a escola viria ao pátio e teriam a oportunidade de contemplar o mural...que desilusão...indiferença.
  Não conseguíamos compreender, como se pode ser indiferente a uma obra de arte desta natureza.
   Inveja, dor e sofrimento interior. No entanto foram várias as pessoas que nos vieram felicitar pelo trabalho exemplar e magnífico, pela dedicação e empenho. O que mais me tocou, foram as palavras de uma professora: " Vocês têm futuro!" . Muito obrigado a ela e a todos que nos apoiaram. Ao professor Álvaro Espadanal, aos nossos pais e atodos  aqueles que permitiram que este sonho se tornasse realidade.


 

      David Ventura







Arte, uma palavra difícil de definir para mim mas uma das que me transmite mais paixão, valores e dedicação... na minha  " caixinha de vocabulário ". Quando me perguntam: "Sofia, o que é a Arte?", eu apenas respondo com um " brilhozinho" nos olhos e com um grande sorriso como quando entro numa grande exposição. Foi esta palavra que deu uma grande  reviravolta na minha "vidinha" de " sobreirense " há três anos atrás. Pela minha paixão à Arte, abandonei tudo aquilo a que estava habituada: o calor de meus pais, todos os meus amigos de infância, o meu querido quartinho, os professores do I.S.T. que davam notas como quem dá rebuçados e que eu adorava, etc, etc. Mas agora... bem, agora não estou  mesmo nada arrependida de ter vindo para outros ares no Secundário. Foram os melhores anos da minha vida, evolui bastante. Opá, sinto-me mesmo bem...
Na pintura do mural da nossa escola estivemos todos no auge de todos os trabalhos artísticos que fizemos até agora nas nossas "vidinhas". Quando me pus a admirar todo o nosso trabalho na segunda -feira de manhã nem queria acreditar (somos muito bons , nós).O meu cérebro estava em autêntico orgasmo psicológico. Adooooorei aqueles dias todos; apesar de ter, de termos trabalhado imenso, foi realmente divertido. Era mesmo de uma coisa desta dimensão que estávamos a precisar para acabar o secundário em cheio com esta turma fenomenal. É pena que muitas pessoas não tenham ligado muito à nossa obra. São pessoas que não conseguem atribuir utilidade à arte. Mas eu não imagino o nosso mundo sem ela. Certamente que faria falta a toda a gente a Harmonia, a Beleza e a Estética no nosso quotidiano. Agora só espero que esta obra ali permaneça por uma infinidade de anos. Seis dias seguidos sem parar. Eu não conseguia largar a escola pelo desejo de ver aquilo tudo terminado.
E o meu desejo ali está...concretizado, com muito orgulho, AH...AH!....


  Sofia Pedro
(A Heroína)





 Adooooooooro!



 





                                                                   Mariana Agostinho


   Poucas palavras restam depois destes dias...
   Muita mistura de cores. Pessoas. Tintas. E mais tintas. Muitos, muitos  pincéis, trinchas e rolos. Mas para
além disto, uma grande mistura de sentimentos.
  Foram dias duros, com muito calor, muito cansaço acumulado mas fica uma enorme saudade de todos os momentos que passamos, bons e maus, de todas as experiências. É fácil quando há uma união tão forte entre nós, força de vontade e...muita entreajuda. É certamente um acontecimento que não vou esquecer. E porque são os pormenores que marcam o acontecimento, as nossas chegadas sonolentas, o calor a apertar, a música para cantarolar, os nossos almocinhos, a sesta na relva, (o calor a apertar cada vez mais), a chegada da noite...Hora de descanso para mais um dia de luta pessoal.
Todas estas recordações vão permanecer na minha lembrança.
   Na última noite, quando já só éramos uns seis resistentes, para além de estar-mos mortos de sono, era nítida a nossa FELICIDADE em ter-mos cumprido o nosso objectivo.
Ainda alguns de nós deixaram-se por ali ficar. Queríamos ver as primeiras reacções...qual não foi o nosso espanto, quando reparamos que ninguém nos vinha felicitar, ninguém estava visivelmente tocado com o nosso trabalho...só quando mais tarde cheguei a casa, percebi que para mim isso pouco importava, pois ninguém, mas ninguém mais sabia o esforço e a dedicação com que fizemos toda aquela obra de arte. Agora já consigo concordar , quando o professor dizia que pintamos o melhor mural do País...o melhor mural do mundo! Porque fui eu que o fiz!
     Porque fomos nós que o fizemos!
E os nossos nomes vão ficar lá marcados. O meu nome...como todos me chamam...MARIÔNA .




 Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria.

            Fernando Pessoa



Realmente, só uma turma inteira de loucos e sonhadores artistas em potência. Apoiados por um professor ainda mais louco e sonhador, podia levar um projecto destes para a frente. Não se tratou de pintar uma tela ou uma parede apenas, mas sim toda a área envolvente ao bar da escola, que é, apenas e só, o sítio onde se reúnem todos os alunos nas alturas em que não estão nas aulas...para não falar que é também uma zona da escola que tem grande visibilidade do exterior. Era portanto um projecto ambicioso e, ao mesmo tempo, uma obra que nos traria grandes responsabilidades. Afinal de contas decidimos"mexer" no espaço da escola e por isso a coisa tinha, obrigatoriamente, que ficar bem feita. E ficou. Numa maratona masoquista de sacrifício e prazer, todos demos o que pudemos para concluir esta obra que, no final de contas, é algo que não fizemos para nós, mas para a escola, para os  alunos e para as pessoas que passam na rua ...fizemo-lo com a simples intenção de oferecer cor, imagem, animação e arte a um edifício demasiado "cinzento" tanto na cor das paredes como nas pessoas que lá trabalham e estudam. Sim, pelo feedback recebido. Dá para ver que ainda vivemos num mundo de invejosos, que recusam o que é original e novo e que, por qualquer motivo, se irritam quando vêm pessoas que se aventuram neste tipo de projectos altruístas, num mundo em que muitas pessoas ainda têm medo de sonhar e serem loucas. Não é que isso nos abale. Para dizer a verdade, a atitude de desprezo de certas pessoas (não todas, houve muitas que adoraram o mural)  só veio sublinhar que somos mesmo bons e que o "NOSSO" mural está mesmo bom.
Na memória ficam sete dias e noites de trabalho, de alegria, de brincadeiras, de petiscos e, principalmente, de união, num grupo de pessoas excelentes, que sonhou um dia trazer beleza para a escola.

                                                   Francisco Sousa




 




Nunca mais se apagará da minha memória, aquela manhã do dia 28 de Abril, terminaram 6 dias de trabalho dedicado  e de  sonho.
Já passavam sete horas e 30 minutos  desde o início daquela segunda feira, quando os primeiros raios de sol me incidiram no rosto e me deixaram sem ver. Foi então que após dar os últimos retoques num dos bocados de história do nosso mural, decidi colocar um "ponto final" . Pousei o pincel que permanecera toda a noite colado na minha mão, Devo confessar que até os meus braços fortes já acusavam o peso de tantas horas de trabalho.
  DE seguida, afastei-me e sentei-me junto do meu professor e dos meus colegas (os que restavam) que tal como eu, estavam exaustos, aos poucos se deixaram dormir nas mais variadas posições. Mas eu não, eu não poderia dormir, melhor...eu não conseguia dormir e fiquei ali, olhando aquelas paredes que se transformaram em vida. Cada cm de tinta era um bocado de cada um de nós, um bocado de sofrimento, alegria, personalidade, dedicação e amor...
Sim, é isso aquelas paredes somos nós.
Os alunos do 12ºE, o professor e artista Álvaro Espadanal, não esquecendo o seu filho Júlio que fora uma preciosa ajuda. Assim como todos os nossos amigos que se juntaram à nossa causa.
Apesar de ter estado tanto tempo em contacto com as referidas paredes, cada vez que olhava para elas encontrava algo de novo e espectacular. Até mesmo no que eu pintei. Como era possível que manchas cuidadas, de tinta conseguiam contar uma história.
O impacto daquelas paredes provocava em mim uma emoção tão grande que me apetecia chorar...como era possível.Ainda hoje, já passaram alguns dias e continuo a espantar-me ao olhar para tudo aquilo e é com orgulho que digo que também contribuí para tornar aquele sonho realidade.
Nunca mais esquecerei aqueles dias de convívio, ARTE, BRINCADEIRA, CRIATIVIDADE e AMIZADE...pois aquele MURAL só ficou terminado porque foi feito por pessoas magníficas, pessoas que ficarão na minha mente para sempre.
  Aproveitando esta onda de sentimentalismo, gostava de agradecer à minha amiga Sofia Pedro por me motivar a vir para este curso de ARTES. SE não fosse a sua insistência nunca teria descoberto este mundo de Cores.

                       Adorei!!!!

                                                                        Álvaro Pitas  









Dois DIAS DEPOIS-DORMIDOS e LAVADINHOS







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